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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

MENSAGEM DO MINISTRO PROVINCIAL PARA SOLENIDADE DO NATAL

PROVÍNCIA FRANCISCANA DE SANTO ANTÔNIO DO BRASIL
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Aos Confrades, na passagem do Natal do Senhor de 2012.

Caros confrades, 
“O Senhor lhes dê a Paz!” 

 Ao celebrarmos o Natal do Senhor, “a festa das festas” (cf. 2 C 199) para nosso irmão e pai Francisco de Assis, queremos viver em nossas fraternidades o sentido profundo do mistério da Encarnação do Filho do Altíssimo em nossa história. E ao contemplarmos na fé esse mistério, vem-nos à mente a afirmação do apóstolo João em sua primeira carta: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus mas foi Ele que nos amou e nos enviou o Seu Filho [...]” (Jo 1,10). 

A Encarnação do Filho de Deus em nossa história é, então, a grande declaração do amor do Pai por toda a humanidade e que encontra a sua plenitude no mistério pascal de Jesus. Esta é a razão pela qual Tomás de Celano escreve que São Francisco “gostava tanto de lembrar a humildade da Encarnação e o amor da Paixão do Senhor, que nem queria pensar em outras coisas” (cf. 1 C 84). 

Neste Natal meditemos sobre a “humildade da Encarnação” para podermos encontrar o sentido verdadeiro de nossa condição humana: somos pequenos e insignificantes dentro do mistério da vida e da imensidão do universo! A grandeza da humanidade reside justamento no reconhecimento de nossa pequenez e na certeza do amor infinito que recebemos do Pai em Seu Filho, que se fez um de nós! 

As dificuldades na convivência humana, as injustiças, as guerras e a destruição da natureza têm sua raiz justamente em nossa prepotência! Perdemos o ponto de referência e equilíbrio que nos une a todas as realidades que nos cercam e das quais dependem o sentido de nossa vida, missão e felicidade neste planeta! A prepotência que invadiu nosso coração nos desumaniza! O Natal é uma nova oportunidade que nos é oferecida por Aquele que veio ao nosso encontro assumindo a nossa condição humana! Somos “húmus” que recebeu o sopro amoroso de Deus e o calor de Sua Palavra Eterna que veio morar entre nós! 

Caríssimos irmãos, neste Natal, diante do mistério da Encarnação do Senhor, façamos a mesma pergunta que fazia nosso pai Francisco: “Quem és tu, ó dulcíssimo Deus? E quem sou eu...? Quem és tu, Senhor de infinita bondade e sapiência, que te dignas visitar-me a mim que sou um verme vil e abominável?” (cf.Csd 3ª) 

Jesus assumiu nossa pequenez e nossa insignificância justamente para mostrar que aí reside nossa grandeza e dignidade de filhos de Deus! É esta a grande verdade que nos é proclamada no dia de Natal: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). 

Um feliz e santo Natal! E que em 2013, motivados pelo amor de Deus, demos o melhor de nós para construirmos um mundo melhor!

Frei Marconi Lins, OFM
Ministro Provincial

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

MENSAGEM DO MINISTRO GERAL PARA SOLENIDADE DO NATAL

Queridos irmãos e irmãs! 

“Eis que vos anuncio uma boa notícia que será de grande alegria para todo o povo” (Lc 2,10). A Palavra, que desde o princípio estava junto de Deus, pois era Deus (cf. Jo 1,1), “ao cumprir-se a plenitude dos tempos” (Gl 4,4) se faz Emanuel, Deus está conosco (cf. Mt 1,23). Este é o Evangelho de Deus “aos homens de boa vontade” de todos os tempos (cf. Lc 2,14). Esta é a Boa Notícia que mudou a história da humanidade: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz, uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria” (Is 9,1); e que muda a história de todos aqueles que a acolhem (cf. Jo 1,12). 

É Natal. Chegou a hora de despir-se da veste de luto e aflição (cf. Br 5,1). “O Senhor fez grandes coisas por nós, por isso estamos alegres” (Sl 125,3). A humanidade aguardava paciente o fruto precioso da terra (cf. Tg 5,7). Finalmente “a graça de Deus se manifestou para a salvação de todos os homens” (Tt 2,11). É Natal! Deus vem para permanecer conosco: “Alegraivos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos” (Fl 4,4). 

O Natal nos recorda que não estamos sozinhos, que Deus caminha conosco pelos caminhos do mundo. Esta presença é causa de imensa alegria (cf. Mt 18,8-9), fundamento de uma esperança certa para aqueles que acolhem a boa notícia com fé reta e a tornam presente na vida com caridade perfeita (cf. OC). O Natal nos recorda também a necessidade de sermos portadores da Boa Notícia, aos de perto e aos de longe (Ef 2,17), aos que se sentem próximos e aos que pensam estar afastados. Quem se encontrou com Cristo não pode fazer outra coisa que converter-se em anunciador da Verdade, como fez a samaritana (cf. Jo 4,28-29). Quem descobriu Cristo como o tesouro de sua vida não pode deixar de comunicar aos demais esta descoberta, como a mulher que encontra a moeda (cf. Lc 15,8ss). Como os pastores, quem encontrou Cristo não pode fazer outra coisa do que comunicar a todos esta boa notícia (cf. Lc 2,16ss). E faz isto com alegria, como os pastores (cf. Lc 2,20); sem demora, como os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,33); com audácia, como os primeiros discípulos (cf. At 5,22ss); e com criatividade, como fizeram nossos grandes missionários ao longo dos 800 anos de nossa história. A alegria que produz tal descoberta (cf. Mt 13,44), a palavra que arde em um coração enamorado pelo Senhor (cf. Lc 24,32), a experiência de quem se sente agraciado por um olhar amoroso do Senhor (cf. Mc 10,21), põe os pés em movimento para “sair” e ir ao encontro do outro, cruzando todo tipo de barreiras culturais, sociais e, inclusive, religiosas. O ardor missionário é o melhor teste para saber se já encontramos ou não a Cristo. 

“Ai de mim se não evangelizar!” 

“Evangelizar é a graça e a vocação própria da Igreja, sua identidade mais profunda” (EN 13-14). Considerando os muitos batizados que estão pouco vangelizados, a triste realidade de muitos cristãos que o são só de nome, e o fato de que, depois de 2000 anos, continuam sem conhecer a Cristo, é necessário reafirmar sem medo a urgência e a necessidade da nova evangelização (=NE) (cf. VD 96). 

Neste momento, a Igreja necessita de um novo impulso missionário (cf. RM 30ss); necessita deixar-se impregnar pelo ardor da pregação apostólica (cf. NMI 40), para comunicar Cristo, com serena audácia, a quem não o conhece ainda (missão ad gentes), e para tornar compreensível nos novos desertos do mundo a palavra da fé que nos regenerou para a vida (missão inter gentes). Nos umbrais do terceiro milênio, a Igreja necessita renovar o entusiasmo na comunicação da fé, em anunciar e transmitir o Evangelho, “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16), e que em última instância se identifica com a pessoa de Jesus Cristo (cf. 1Cor 1,24). O Espírito nos dá a parresia para tal anúncio (cf. At 2,29). 

Por isso, se queremos “conservar o frescor, o impulso e a força para anunciar o Evangelho” (EN 15), como seguidores de Jesus sentimos a necessidade da conversão, de deixar-nos evangelizar para poder evangelizar, como se repetiu muitas vezes na sala sinodal, na XIII Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé (celebrada no Vaticano de 7 a 28/10/2012). Somente assim, vivendo de maneira renovada a própria consciência comunitária da fé, reencontrando o entusiasmo para comunicar a fé, poderemos anunciar a Boa Notícia nas novas situações culturais que se criaram nas últimas décadas. Anúncio e testemunho vão de mãos dadas. 

Por outro lado, como também reconheceu o Sínodo, Deus não está ausente só na vida da sociedade, mas também na vida das próprias comunidades eclesiais. O secularismo, a indiferença e o relativismo entraram de cheio na vida de tantos batizados, sacerdotes e consagrados de maneira que tais atitudes já não são somente uma ameaça externa, mas também um conflito cotidiano. Por tudo isso, a NE é, antes de tudo, uma chamada e uma pergunta feita pela Igreja a si mesma, para que reforce em todos os batizados a fé em Cristo e nos comprometamos a ser propositivos neste novo contexto cultural no qual a Igreja é chamada a viver sua fé e a transmiti-la. Trata-se, portanto, de reavivar a fé que corre o risco de apagar-se em contextos que obstaculizam seu enraizamento pessoal, sua presença social, a clareza de seus conteúdos e seus frutos coerentes, primeiramente em nós para em seguida reavivá-la nos outros. O apelo à evangelização se traduz em uma chamada à conversão. Chamados a evangelizar, é nosso dever vencer o medo com a fé, o desânimo com a esperança, a indiferença com o amor. 

A isto mira, precisamente, a NE. Esta é dirigida, em primeiro lugar, a todos os batizados, necessitados todos, também nós consagrados, de redescobrir as razões de sua/nossa fé e de ser evangelizados para poder evangelizar. A NE também tem como destinatários todos quantos abandonaram sua fé e por múltiplas razões se afastaram da Igreja. Finalmente, a NE se dirige àqueles que desejam crer e buscam um sentido pleno para a sua vida. Todos esses, os crentes, os afastados e os que desejam crer, buscam pessoas em condição de comunicar-lhes, mais com o testemunho de sua vida que com sua palavra, a alegria do encontro com Cristo. Como se disse no Sínodo não há homem ou mulher que em sua vida, como a mulher de Samaria, não se encontre junto a um poço com uma vasilha vazia, com a esperança de encontrar Aquele que pode dar significado pleno à existência. Como Jesus no poço de Sicar, particularmente nós os frades do povo, temos de sentir a necessidade de sentarmo-nos junto aos homens e às mulheres de nosso tempo para tornar presente o Senhor em suas vidas, de modo que possam encontrá-lo, pois somente ele é água que dá a vida verdadeira e eterna (cf. Jo 4,5-42). 

“A caridade de Cristo também nos impele” 

Nossa Ordem, junto com outras Ordens e Institutos de Vida Consagrada, contribuiu de maneira mui importante na transmissão da fé, aos de perto, através das missões populares e da evangelização ordinária, e aos de longe, através da missão ad gentes. Acolhendo o convite que nos vem da Igreja, não podemos deixar de colaborar, a partir de nossa experiência, e com a criatividade que sempre nos caracterizou, na tarefa da nova evangelização. Isso requer de nossa parte: viver com radicalidade e gozo nossa própria identidade franciscana; uma vida que mostra a primazia absoluta de Deus e que, através da vida fraterna em minoridade, expresse a força humanizadora do Evangelho; plena disponibilidade para ir às fronteiras geográficas, sociais e culturais da evangelização; situar-nos nos novos areópagos da missão (cf. VC 96-99); e o compromisso pela salvaguarda da criação, a construção da paz e a promoção da justiça, especialmente na defesa dos direitos dos que sofrem por causa de situações de exclusão em nossas sociedades. Uma vida franciscana, plenamente evangélica, evangelizada e evangelizadora, em profunda comunhão com os pastores e em estreita colaboração com os leigos, e fiel ao nosso próprio carisma, oferecerá uma contribuição muito significativa à NE. 

Fiéis ao convite do Concílio Vaticano II, queremos manter viva a capacidade permanente de perscrutar os sinais dos tempos e de interpretá-los à luz do Evangelho (cf. GS 4). Como seguidores do Poverello, queremos manter em todo o momento um olhar cheio de simpatia ao nosso mundo amado por Deus (Jo 3,16). Não pode haver lugar para o pessimismo no coração e na mente daqueles que se sentem chamados a viver o Evangelho, seguindo as pegadas de Cristo. Ao mesmo tempo queremos viver em constante discernimento evangélico (cf. 1Ts 5,21) para “distinguir entre o que vem do Espírito e o que lhe é contrário” (VC 73). Isso nos permitirá descobrir que, apesar das muitas dificuldades que atualmente se apresentam para a transmissão da fé com o predominante secularismo, o crescente indiferentismo e relativismo, este nosso momento histórico oferece também grandes oportunidades para o anúncio da Boa Notícia, o que nos move a empreender, com novo ardor, novos métodos, e novas expressões, o desafio da nova evangelização. 

Novo ardor. O novo ardor exige conversão pessoal, renovar constantemente a paixão por Cristo, pela Verdade e pelo Evangelho. O novo ardor questiona e faz com que nos perguntemos onde está nosso coração, quem continua sendo o “amor primeiro” na vida de todos os dias, se nossas vidas estão unificadas em torno de Cristo ou fragmentadas e divididas, se estamos centrados no único necessário ou distraídos em tantas coisas que, embora sendo boas, não são o mais importante. O novo ardor questiona, em definitivo, nossa vida cotidiana e o estilo da mesma. A NE consiste em propor de novo ao coração e à mente, não poucas vezes distraídos e confusos, dos homens e das mulheres de nosso tempo e, sobretudo a nós mesmos, a beleza e a novidade perene do encontro com Cristo. Para manter o ardor ou reacendê-lo, é necessário contemplar o rosto de Jesus Cristo, entrar no mistério de sua existência, manter sempre o coração voltado para o Senhor (RnB 22,19). 

Novos métodos. Isto exige uma conversão pastoral, uma renovação do método de evangelização. Os novos métodos tem muito a ver com o uso dos novos meios de comunicação social, chamados a facilitar a transmissão da fé, particularmente ao mundo dos jovens que buscam sentido pleno para suas vidas e que guardam em seu coração aspirações profundas de autenticidade, de verdade, de liberdade, de generosidade, às quais somente Cristo pode ser resposta capaz de saciá-las. Devemos reservar uma atenção particular ao mundo das comunicações sociais, campo no qual se entrelaçam tantas vidas, tantas interrogações e tantas dúvidas. Os novos métodos também tem a ver com os conteúdos. Por outra parte, hoje, em muitas circunstâncias, se faz necessário um primeiro anúncio do Kerigma. Esse anúncio, em muitas ocasiões, será de tu a tu, e sempre há de ir acompanhado por um verdadeiro testemunho de vida cristã. 

Novas expressões. Isso comporta uma conversão estrutural. Há estruturas que, em lugar de facilitar a transmissão da fé, a dificultam. Aqui se impõem, uma vez mais, lucidez e criatividade. Neste contexto também se faz necessário liberar a jaula da linguagem que muitas vezes torna incompreensível a Boa Notícia que queremos transmitir. Si queremos chegar às pessoas, especialmente aos jovens, se faz necessário entrar na cultura da linguagem da comunhão digital, sem esquecer nunca que a linguagem compreensível para todos, e que não pode ser substituída por nenhuma outra, é a do testemunho e da santidade. Novas expressões comportam também criar novos poços, onde nossos contemporâneos possam saciar sua sede de plenitude e onde, a partir da experiência de deserto – Bento XVI durante a homilia da inauguração do Ano da Fé falou de “desertificação espiritual”-, possam descobrir a alegria de crer. Com a Igreja sentimos o dever de individuar e imaginar novos instrumentos e novas palavras para tornar compreensível o anúncio da Boa Noticia, também nos novos desertos do mundo. A leitura Orante da Palavra nos ajudará a encontrar esses novos poços onde nossos contemporâneos podem encontrar-se com Jesus. 

“Acreditei, por isso falei” 

A NE, porque tem seu centro em Cristo e não é tanto questão de estratégias senão de dar qualidade ao nosso testemunho, vai estreitamente unida à fé. E não se trata de uma fé abstrata, de noções, como diria o Cardeal Newman, mas de uma fé feita experiência, uma fé vivida, celebrada e confessada, como nos pede o Papa Bento em Porta Fidei; uma fé que tenha como fundamento o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que é Jesus, que dá um novo horizonte à vida e com isso uma orientação decisiva (cf. Deus caritas est 1). Uma fé que seja, antes de tudo, adesão pessoal a Cristo, confiança sem fissuras nele (cf. LD, 1ss). 

Os biógrafos de Francisco o definem como novus evangelista, enviado por Deus para despertar o coração dos homens e das mulheres de seu tempo a um verdadeiro sentido de presença e de ação de Deus em suas vidas. O Poverello quis embarcar em uma nova evangelização da sociedade e da cultura de seu tempo. Sua novidade não consistiu tanto em pregar o Evangelho, pois isso o faziam também muitos outros, mas em uma nova atualização do Evangelho, com um compromisso apaixonado e uma encarnação criativa, tudo isso possível graças à sua fé granítica n’Aquele ao qual confessa como o TUDO de sua vida (cf. LD, 4). 

Queridos irmãos e irmãs! À distância de vinte séculos a Igreja nos recorda o mandato do Senhor: “Ide ao mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15). Não há tempo a perder. A paixão por Cristo e a compaixão pela humanidade, que deve arder em nossos corações, não nos permitem aninhar cansaços. É hora de colocar-nos em caminho, dispostos a cruzar todo tipo de barreiras, bem equipados de fé reta, esperança certa e caridade perfeita. 

 É Natal 

É Natal! Queridos irmãos e irmãs: seguindo o exemplo dos pastores, da samaritana e de tantos outros, coloquemo-nos em caminho para conduzir os homens e as mulheres de hoje para fora do deserto, rumo aos poços de água viva, rumo a Cristo que nos dá a vida e a vida em plenitude. 

Feliz Natal a todos, com o desejo de que Cristo nasça em nossos corações para levá-lo aos outros. 

Solenidade da Imaculada, Roma, 8 de dezembro de 2012 

Vosso irmão, Ministro e servo. 

Frei José Rodríguez Carballo, OFM 
Ministro geral, OFM

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?p=30011

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO: MARIA, MÃE DA IGREJA

A Igreja sempre venerou Maria como sua mãe. Mesmo porque há uma razão lógica: ela é a Mãe de Jesus, cabeça da Igreja e a Igreja é o corpo místico de Cristo, princípio e primogênito de todas as criaturas celestes e terrestres (Ef 1,18). Por isso mesmo, Maria é a mãe de todos os que nasceram pelo Cristo, tornaram-se irmão de Cristo e em Cristo, e são herdeiros de sua graça, sua vida e sua glória. Foi, porém, em pleno Concílio Ecumênico Vaticano II, no dia 21 de novembro de 1964, que o Papa Paulo VI deu solenemente a Maria o título de “Mãe da Igreja”. 

Os Bispos do mundo inteiro acabavam de assinar a Constituição Dogmática Lumen Gentium, sobre a Igreja, e o Papa acabara de promulgar, em sessão pública, o novo documento, que implantaria os rumos futuros da eclesiologia e da prática pastoral. Diferentemente do que se pensara na fase preparatória do Concílio, os Padres Conciliares não fizeram um documento especial sobre o papel de Maria na história da salvação, mas inseriram a doutrina mariana, a pessoa de Maria e sua função como co-redentora, no próprio documento sobre a Igreja, ressaltando a Mãe de Jesus como membro, tipo e modelo da Igreja. 

 Maria é vista conexa ao mistério trinitário, em sua dimensão cristológica, pneumatológica (Espírito Santo) e eclesiológica. Logo no início do capítulo VIII da Lumen Gentium, intitulado “A Bem-Aventurada Virgem Maria Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja”, marca-se toda a linha de doutrina: “A Virgem Maria, que na Anunciação do Anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime e unida a ele por um vínculo estreito e indissolúvel, é dotada com a missão sublime e a dignidade de ser a Mãe do Filho de Deus, e por isso filha predileta do Pai e sacrário do Espírito Santo. Por esse dom de graça exímia supera de muito todas as outras criaturas celestes e terrestres. Mas, ao mesmo tempo, está unida, na estirpe de Adão, com todos os homens a serem salvos. Mais ainda: é verdadeiramente a mãe dos membros (de Cristo), porque cooperou pela caridade para que, na Igreja, nascessem os fiéis que são membros desta Cabeça. Por causa disso, é saudada também como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e caridade. E a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de piedade filial como mãe amantíssima” (n. 53). Este parágrafo contém os pontos desenvolvidos nessa parte do documento. 

Reconheceu o Papa Paulo VI naquele discurso de encerramento da terceira sessão do Concílio que era a primeira vez que um Concílio Ecumênico apresentava síntese tão vasta da doutrina católica acerca do lugar que Maria Santíssima ocupa no mistério de Cristo e da Igreja. E, emocionado, afirmou que queria consagrar à Virgem Mãe um título que sintetizasse o lugar privilegiado de Maria na Igreja. E declarou: “Para a glória da Virgem e para o nosso conforto, proclamamos Maria Santíssima Mãe da Igreja, isto é, de todo o povo de Deus, tanto dos fiéis quanto dos pastores, que a chamam de Mãe amorosíssima. E queremos que, com este título suavíssimo, seja a Virgem doravante ainda mais honrada e invocada por todo o povo cristão”. Alguns anos mais tarde, no dia 15 de março de 1980, o título foi acrescentado à Ladainha lauretana, logo depois da invocação “Mãe de Jesus Cristo”. 

No mesmo solene discurso, Paulo VI lembrou que o título não era novo para a piedade dos cristãos, porque desde os primórdios do Cristianismo Maria foi amada como mãe e o povo sempre recorreu a ela como um filho recorre à mãe. E argumentou: “Efetivamente, assim como a maternidade divina é o fundamento da especial relação de Maria com Cristo e da sua presença na economia da salvação, operada por Cristo Jesus, assim também constitui essa maternidade o fundamento principal das relações de Maria com a Igreja, sendo ela Mãe daquele que, desde o primeiro instante de sua encarnação, uniu a si, como cabeça, o seu corpo místico, que é a Igreja”. 

Cito mais um trecho do discurso do Papa em que fala de Maria, imaculada, sim, mas ligada a nós pecadores por laços estreitíssimos: “Embora na riqueza das admiráveis prerrogativas, com que Deus a ornou para fazê-la digna Mãe do Verbo Encarnado, está ela pertíssimo de nós. Filha de Adão como nós e por isso nossa irmã por laços de natureza, ela é a criatura preservada do pecado original em vista dos méritos do Salvador; aos privilégios obtidos, junta a virtude pessoal de uma fé total e exemplar… Nela, toda a Igreja, na sua incomparável variedade de vida e de obras, acha a forma mais autêntica da perfeita imitação de Cristo”. 

Ninguém, que chega à Praça São Pedro, em Roma, deixa de se impressionar com a imensa colunata de Bernini, construída em mármore e pedra, como um grande, afetuoso e festivo abraço de acolhimento aos peregrinos. Por cima da colunata, 140 estátuas de tamanho natural, de santos e santas nascidos nas mais diferentes camadas sociais, representam visivelmente a comunhão dos santos, que não é coisa do passado ou apenas do céu, mas a família viva que se une aos cristãos que entram na Basílica. Ora, Nossa Senhora não figura entre os santos da colunata. 

O Papa João Paulo II, em 1981, mandou colocar na parte externa e alta da Secretaria de Estado, que olha para a Praça de São Pedro, a imagem de Maria Mãe da Igreja. Todos a vêem de qualquer ponto da Praça. Trata-se de uma cópia feita em mosaico da conhecida como Nossa Senhora da Coluna. Assim chamada, porque seu original estava pintado numa coluna de mármore da primitiva basílica de São Pedro. Quando essa foi destruída, em 1607, para dar lugar à grande Basílica como a temos hoje, a parte da coluna com a imagem foi posta, na nova igreja, sobre o altar que abriga as relíquias de três papas, os três com o nome de Leão (II, III e IV), onde está até hoje. Dessa pintura, de autor anônimo, foi feito o mosaico que agora domina discretamente a Praça. Vestida de azul celeste, Maria tem nos braços, em gesto de oferecimento ao povo, o Menino que, sorridente, abençoa com a mão direita, à moda grega. Ambos, Mãe e Filho, olham para longe, como que contemplando a Praça, a Cidade e o mundo, derramando sobre todos um olhar de inefável bondade, trazendo à memória a parte final da Lumen Gentium, onde Maria é considerada sinal de segura esperança e de conforto ao povo de Deus em peregrinação (n. 68). Sob a imagem, em grandes letras de bronze, legíveis da Praça, está escrito: “Mater Ecclesiæ” (Mãe da Igreja). 

Paulo VI, que dera a Maria o título oficial de “Mãe da Igreja”, desenvolveu o tema na Exortação Apostólica sobre o Culto à Virgem Maria, um dos documentos mais bonitos de seu pontificado. O Papa apresenta, através das festas marianas do calendário litúrgico, Maria como modelo da Igreja, e pede que suas considerações de ordem bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica sejam levadas em conta na orientação da piedade popular e na elaboração das novas orações marianas (n. 29). O Papa fala de Maria como modelo de quem sabe ouvir e acolher a Palavra de Deus com fé. Esta é uma missão específica da Igreja: escutar, acolher, proclamar, venerar e distribuir a Palavra de Deus como pão de vida (n. 17). Fala de Maria como modelo de pessoa orante e intercessora. Ora, a Igreja todos os dias apresenta ao Pai as necessidades de seus filhos, louva sem cessar o Senhor e intercede pela salvação do mundo (n. 18). Fala de Maria Virgem e Mãe, modelo da fecundidade da virgem-Igreja, que se torna mãe, porque, pelo batismo, gera os filhos concebidos pela ação do Espírito Santo (n. 19). Fala de Maria, que oferece ao Pai o Verbo encarnado, sobretudo aos pés da Cruz, onde ela se associou como mãe ao sacrifício redentor do filho. Diariamente a Igreja oferece o sacrifício eucarístico, memorial da morte e ressurreição de Jesus (n. 20). 

Quando falamos de Maria como modelo, há o perigo de vê-la longínqua, ou ao menos fora de nós, como vemos os nossos heróis. Na verdade, Maria é parte essencial da Igreja. Podemos dizer que a Igreja está dentro de Maria e Maria está dentro da Igreja. Essa verdade foi acentuada, sobretudo, pelo Papa João Paulo II na encíclica Redemptoris Mater, que leva o sugestivo título: A Bem-aventurada Virgem Maria na vida da Igreja que está a caminho: “Existe uma correspondência singular entre o momento da Encarnação do Verbo e o momento do nascimento da Igreja. E a pessoa que une esses dois momentos é Maria: Maria em Nazaré e Maria no Cenáculo de Jerusalém” (n. 24). Depois de acentuar Maria no centro da vida da Igreja, conclui o Papa: “A Virgem Maria está constantemente presente na caminhada de fé do Povo de Deus” (n. 35). “A Igreja mantém em toda a sua vida, uma ligação com a Mãe de Deus que abraça, no mistério salvífico, o passado, o presente e o futuro; e venera-a como Mãe da humanidade” (n. 47).

Frei Clarêncio Neotti, OFM

Fonte: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=5499
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